GRANDES CIDADES BRASILEIRAS ESTÃO NO MAPA DO ALTO RISCO HÍDRICO, INDICA ESTUDO

Grandes cidades brasileiras estão em área de risco hídrico alto, mostra novo relatório do World Resources Institute. Mas há como reverter a situação. Investir em infraestrutura natural, ou seja, na restauração florestal melhora a qualidade da água que chega aos reservatórios, o que ajudaria os governos a se prepararem para crises

A falta de água que milhões de brasileiros constatam nas torneiras e que está afetando a produção de energia hidroelétrica acaba de ser comprovada pelo novo relatório do World Resources Institute.  O trabalho, que mapeou 189 países de todo o mundo, incluindo seus estados e municípios, mostra que o Brasil, como um todo, não está entre os que mais sofrerão com a falta de água no futuro. Porém algumas de suas principais cidades, sim: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Fortaleza, Recife, Vitória e Campinas, estão em áreas de risco hídrico alto, de acordo com o estudo.

“O estresse hídrico é a maior crise da qual ninguém fala. Suas consequências estão à vista sob a forma de insegurança alimentar, conflitos, migração e instabilidade financeira”, alerta Andrew Steer, Presidente e CEO do World Resources Institute.  “A boa notícia é que já temos tecnologias para reduzir ou reverter o problema. No caso do Brasil, por exemplo, nossos estudos mostram que investir em infraestrutura natural, ou seja, na restauração florestal melhora a qualidade da água que chega aos reservatórios, o que pode ajudar os governos a se prepararem para crises”, destaca Rachel Biderman, diretora-executiva do WRI Brasil (mais sobre infraestrutura natural na edição sobre Soluções baseadas na Natureza).

O Atlas Aqueduct de Risco Hídrico mostra que 17 países, que abrigam um quarto da população mundial, enfrentam um estresse hídrico “extremamente alto”.  Nesses países, a agricultura, a indústria e municipalidades estão consumindo 80% das águas superficiais e subterrâneas disponíveis em um ano médio. Quando a demanda rivaliza com a oferta, mesmo pequenos choques de secas  – que devem aumentar devido à crise climática – podem produzir consequências terríveis.

O relatório do WRI também identifica os pontos onde há maior risco de água em todo o mundo, como, por exemplo, na região do Oriente Médio e Norte da África, onde ficam 12 dos 17 países que enfrentam estresse “extremamente alto”.  Nelas, especialistas identificaram a escassez de água como um dos principais fatores de conflito e migração. O Norte da Índia, por sua vez, enfrenta um severo esgotamento da água subterrânea que pode ser visualizado nos mapas do Aqueduct e, por isso, a região foi incluída em cálculos de estresse hídrico pela primeira vez.

No caso do Brasil, esses pontos estão mais concentrados no Nordeste, onde fica o Semiárido. Há alto risco em pontos no Planalto Central e ao leste da região Sudeste, onde ficam São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória e Campinas.

“Temos estudos que mostram como o investimento na recuperação florestal de áreas de captação de água em São Paulo e no Rio de Janeiro torna os sistemas de abastecimento mais eficientes e resilientes”, informa Biderman. “Estamos finalizando um estudo em Vitória com resultados igualmente animadores. Ou seja, sabemos como enfrentar esse risco hídrico sistêmico que tende a se agravar com a crise climática. Basta vontade política para fazer”, completa.

O mapa do risco da água no Brasil mostra áreas no interior do Nordeste, com um longo histórico de estresse hídrico em função de suas condições de clima e geologia, mas também regiões onde esse risco é claramente resultado da ação humana. Fatores como consumo excessivo, desperdício, crise climática, degradação das áreas de captação dos sistemas de fornecimento e o desmatamento Amazônia, que tem papel regulador das chuvas no País, estão colocando as regiões mais populosas do Brasil em risco.

A ferramenta

Lançada em 2013 pelo WRI, a ferramenta Aqueduct já foi usada por mais de 50 mil pessoas e 300 empresas por ano.  Ela utiliza uma metodologia robusta, revisada por pares e as melhores informações disponíveis para criar mapas globais personalizáveis.  A ferramenta classifica estresse hídrico, risco de seca e risco de inundações ribeirinhas em 189 países e suas regiões subnacionais, como estados e municípios.

A ferramenta acaba de ser atualizada e agora inclui 13 indicadores de risco hídrico, incluindo novidades como disponibilidade de água subterrânea e esgotamento de água, e resumos mensais do estresse e da variabilidade hídrica. O modelo hidrológico atualizado da ferramenta Aqueduct mostra uma imagem do risco hídrico mais precisa e granular do que nunca.

“A ferramenta Aqueduct agora permite que os usuários vejam e compreendam melhor os riscos hídricos e tomem melhores decisões para gerenciar esses riscos. Uma nova geração de soluções está surgindo, mas precisamos de uma resposta que seja proporcional ao estresse que estamos vendo. A falta de ação será maciçamente cara em vidas humanas e meios de subsistência”, ressalta Steer.

Muitas empresas utilizam o Aqueduct para traçar locais prioritários, como instalações, fornecedores, novos mercados ou usinas de energia propostas, e avaliar sua exposição ao risco de água.  “A ferramenta Aqueduct serve como ponto de partida para empresas e organizações que levam a sério os riscos da água”, diz Paul Reig, que lidera o engajamento corporativo com o tema e com a ferramenta pelo WRI.

A ferramenta Aqueduct é apoiada pela Aqueduct Alliance, coalizão de empresas líderes, governos e fundações que trabalham com o WRI para melhorar a gestão sustentável da água. Seus dados foram desenvolvidos em colaboração com parceiros de pesquisa da Universidade de Tecnologia de Delft, Deltares, Universidade de Utrecht, Instituto de Estudos Ambientais (IVM), Agência Ambiental PBL Holanda e RepRisk.

“A Procter and Gamble usa o Aqueduct há anos e é membro da Aqueduct Alliance – um grupo de empresas na vanguarda da administração de recursos hídricos”, diz Shannon Quinn, líder global de Manejo de Água da Procter&Gamble. “Os dados do Atlas Aqueduct de Risco Aquático são essenciais para a forma como a P&G avalia os riscos da água, permitindo-nos preservar recursos nas áreas em que trabalhamos. Estamos ansiosos para usar a nova ferramenta para fortalecer ainda mais nossas avaliações.”